Qualquer um que girasse pelas
baladas londrinas em 1966-1967, com certeza se enganou a respeito de um guitarrista
que parecia ser diferente de todos os da época (e por que não, de todos os
tempos), e que atendia pelo nome de Jimi
Hendrix.
Nascido em Seattle, Hendrix fez o
seu nome na então Swingin’ London,
quando a capital inglesa oferecia ao mundo o melhor da cultura pop. Fato. Jimi
não amarelou frente à concorrência. Sua necessidade de ser notado fez com que
fosse possível superar em criatividade até mesmo os mais poderosos. Eric
Clapton, Pete Townshend e Jeff Beck chegaram a temer pelo emprego. Exagero? As
cordas de sua Fender Stratocaster e a língua do guitarrista deram a resposta.
Made
In England
A alta freqüência de Hendrix em
picos como Scotch of St. James, Bag O’ Nails e Saville Theatre confundia a
cabeça do público. Ao lado dos britânicos Noel Redding (baixo) e Mitch Mitchell
(bateria), o descendente de africanos e nativos americanos fazia um som mais inglês que
muitos locais. Falamos aqui de um mix indefectível de soul, funk, rock, black music
e psicodelia. Estilo – veja bem – que nunca parou de ser imitado. Basta ver as
performances de John Frusciante no Red Hot Chili Pepper’s como um dos exemplos
bem-sucedidos dessa influência.
Quando Jimi atingiu as paradas em
dezembro de 1966 com o single Hey
Joe/Stone Free, a mídia comprou rapidamente a ideia. Aparições constantes
em programas como Top of The Pops, Ready, Steady and Go! e inúmeros shows de radio
na BBC espalharam a notícia para o resto do mundo. O prêmio de Artista Pop do
Ano, concedido pelo hoje extinto semanário inglês Melody Maker em 67 e 68, também
ajudou.
Esta escalada pela noite e ondas
radiofônicas levou Jimi Hendrix a produzir Are
You Experienced? – seu primeiro LP feito em Londres – gravando no Olympic
Studios, De Lane Lea e até no CBS Studios, da Bond Street. O disco foi bem nas paradas, ainda mais após o barulho feito
por “Purple Haze” - talvez, sua música mais famosa.
Graças à receptividade do primeiro
vinil, o segundo álbum – Axis: Bold As
Love – teve de ser concebido em alta rotatividade. Em menos de um mês, o
disco estava pronto. Sem o mesmo impacto do anterior, mas com pelo menos uma
faixa candidata a clássico: “Little Wing” – regravada por gigantes como Eric
Clapton e Sting.
Tio
Sam
O retorno triunfante de Jimi Hendrix
aos Estados Unidos também tem origem britânica. Poucos sabem, mas Paul McCartney
foi um de seus “padrinhos”, encorajando os organizadores do Monterey Pop Festival a incluí-lo no
programa, entre 16 e 18 de junho, na Califórnia. A abrasiva performance
carimbou o seu repatriamento para os Estados Unidos, onde o artista comoveria o
mundo com uma lendária atuação em Woodstock, dois anos mais tarde.
Jimi Hendrix deixou o planeta (ao menos,
fisicamente), em 18 de setembro de 1970. Ironicamente, na velha Londres, cidade
que o acolheu e lançou para o estrelato. Quem pensa em viajar para lá poderá
visitar sua residência em Brook Street, nº 23, na região de Mayfair. Uma placa
azul com seu nome é a prova de que a cidade foi seu principal QG em sua curta e
explosiva carreira.
Jimi foi, sem dúvida, o mais inglês dos
guitarristas americanos.
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