domingo, março 20, 2011

O redescobrimento do Brasil



A proximidade do Rock In Rio 2011 e do aniversário de Renato Russo me fizeram novamente refletir sobre o estado atual do Rock BR. Em 1985, no Rock In Rio original, as bandas nacionais estavam despontando como superstars locais. Depois do festival, os Paralamas não pararam de vender LPs. A gravadora, inclusive, precisou reforçar a encomenda de vinil, porque a matéria-prima simplesmente se esgotou na fábrica responsável pelo disco O Passo do Lui. Sinal dos tempos.



Neste mesmo ano – no ano em que a Legião Urbana colocaria no mercado seu álbum de estreia – o Brasil também atravessava processos interessantes no meio político. Tancredo Neves seria o vencedor – ainda que via colégio eleitoral – da disputa pela sucessão presidencial, mas não chegaria a assumir o cargo em Brasília. Dizem que a doença que o derrubou foi uma verticulite, mas não vamos entrar nesse assunto... Em seu lugar, chegou José Sarney, o artífice do plano Cruzado.

No primeiro Rock In Rio, tivemos os seguintes nomes dividindo o palco com Iron Maiden, Queen, AC/DC e outros gigantes do rock internacional: Kid Abelha e os Abóboras Selvagens, Os Paralamas do Sucesso, Barão Vermelho (com Cazuza nos vocais), Lulu Santos, mais alguns clássicos como Erasmo Carlos e a rainha Rita Lee.

De volta à realidade, os astros nacionais escalados para o Rock In Rio 2011 – que volta a ser organizado por aqui após 11 anos – é também um sinal dos tempos. Só para citar alguns: NX Zero, Ivete Sangalo, Marcelo D2, Claudia Leitte, Jota Quest... Estão longe de serem comparados por sua influência no comportamento social e político – e até mesmo artístico – da grife forjada naquele primeiro evento. Quando o rock era escrito com R maiúsculo, e dominava as emissoras, lojas de discos, revistas e até o próprio noticiário político.



Balanço das eras: Não é certo definir o ano X como melhor que o ano Y. Mas quando os críticos pop analisarem e compararem os elencos desses dois eventos, distanciados por mais de 25 anos, talvez tudo comece a fazer sentido. O questionamento, então também pegará carona. Onde estão as vozes inteligentes do Brasil? Onde estão as guitarras? Em que estágio nossa cultura pop se econtra? Por que existe a escassez de heróis? 

Se em 1985 a gente pedia direito de voto, agora a gente poderia exigir que nossos roqueiros (se eles existem) tivessem mais sangue nos olhos. Uma sugestão – relembrando o maior desses heróis, Renato Russo – seria que eles pudessem berrar: “Que país é este?”... Que país é este que ainda admite o mesmo Sarney dos anos 80 ficar eternamente na presidência do Senado? 

Vale a reflexão.

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