sábado, outubro 23, 2010

Caos e (mal) criação em Sampa



Título alternativo deste post: Como é duro obter um ingresso no Brasil para megashows, como os de Paul McCartney





Estreias são MUITO importantes. Mais do que isso: são cruciais.





Mas como estrear em um espaço como este e ignorar duas palavras: “Caos” e “Beatles”. Nem que esse Beatle seja apenas um deles... Já é poderoso demais.

Imagine, então, quando duas palavras com um calibre desses se encontram...  Dinamite pura.

E nada como sentir na pele os destroços de uma bomba para poder falar sobre a guerra que foi (e continua pela Internet) da compra e venda de ingressos para as apresentações de Paul McCartney no Brasil, dias 7 (Porto Alegre), 21 e 22 (São Paulo).

Para entender – ou melhor – para se confundir com a história toda é preciso voltar um pouco no calendário.

Em 5 de outubro, foi anunciada a pré-venda de entradas para a apresentação de Porto Alegre, no Beira-Rio. Os fãs gaúchos comemoravam muito, até saber que as exigências do patrocinador para poder participar da festa seria, primeiro, ser sócio-torcedor do Inter de Porto Alegre (“blergh”, reclamou o gremista”). Ou então, se você não fosse Colorado, ao menos tivesse uma assinatura do jornal Zero Hora. OK, Plan Music, os patrocinadores mandam. Mas até parecia clientelismo. Mais sobre isso adiante.

No dia seguinte ao anúncio de PoA, seria a vez dos paulistas saberem como seria o sistema (torturante) de compra na pré-venda. Nada animador também. Somente quem tivesse cartões de crédito Bradesco e American Express Membership Cards teriam o direito, à meia-noite do dia 15/10 de tentar a sorte pelo Ingresso.com, pelo fone 4003-3222 ou a partir do dia 18 nas bilheterias do Pacaembu. Não foi bem assim que a história foi feita.

Antes mesmo da meia-noite, cerca de dez minutos antes, o site  Ingresso.com abriu a venda de ingressos, com preços variando entre 140 e 700 reais (VIP para a pista).  Se deu bem quem tinha os navegadores Google Chrome ou Firefox, porque o Internet Explorer praticamente travava em qualquer tentativa. Dez minutos mais tarde, as entradas VIP já haviam esgotado. Tentei também (em vão) a web. O Ingresso.com dizia que sim. Mas depois de completar todo o processo e confirmar a operação, olha o que a mensagem indicou:


Nas primeiras horas da manhã, praticamente quase todas as entradas já tinham acabado. Às 9h, quando as linhas abriram para vender via fone, NINGUÉM conseguia ligar. Eu mesmo só fui conseguir às 16h, quando o site já alertava que as vendas estavam encerradas.

O péssimo sistema de vendas, e a possibilidade de comprar SEIS ingressos por cabeça fez os “organizadores” mudar a estratégia. A venda para o público geral (aqueles que não eram clientes exclusivos Bradesco) foi adiantada para segunda-feira, 18/10. O plano inicial seria deixar a gente esperar até o dia 21.

Ai que o caldo engrossou mais. Enquanto o SAC do Ingresso.com avisava que NÃO HAVERIA vendas nas bilheterias do Pacaembu (um atendente, de nome William, me garantiu isso três vezes), fãs desesperados começaram a acampar ao lado do estádio desde a manhã de domingo, esperando pelas 8h da manhã do dia seguinte. Quem estava lá, desmentia totalmente a Ingresso.com. Sim, os ingressos seriam comercializados lá mesmo (lamentável a atitude do Ingresso.com). Olha a foto aqui do domingão:


Já desanimado com a situação caótica para ver Paul McCartney aqui após 17 anos, recebi um recado no Twitter de uma amiga (a Thais) sobre a possibilidade de garantir o meu, já que o marido dela estava lá no Pacaembu e não iria sair de jeito nenhum. Nunca sem os ingressos! Fui logo ao caixa do banco sacar dinheiro, e mais ou menos umas 10h da noite cheguei ao “teatro de guerra”. Haviam umas 100 pessoas mais ou menos, prontas para madrugar. E atravessaram a noite cantando e rezando para que desse certo. Tudo parecia bem. Só piorava quando uma legião de cambistas (entre eles, idosos com mais de 70 anos) tentavam intimidar quem estava na frente da fila. Ainda bem que o Anderson conseguiu o prêmio – ou melhor, o ingresso (o marido da Thais, que já citei aqui), e assim garanti o meu. Prova:


E quando o dia D chegou, e com ele muita chuva, quem estava com a senha distribuída pelos “organizadores” finalmente conseguiu o seu prêmio (o ingresso, o ingresso!). Já quem tentou pela web, sofreu mais uma vez com os típicos problemas on-line.

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Definitivamente, os mega eventos no Brasil ainda precisam de melhor respaldo em termos de organização para poder rolar de forma mais natural.

Afinal, será que a Plan Music esperava que apenas o fã-clube tentaria comprar os ingressos para ver um dos maiores músicos da história?

Até a próxima confusão.

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Claudio D. Dirani é editor de jornalismo da Alpha FM 101.7, autor de Paul McCartney - Todos os Segredos da Carreira Solo e U2 - História e Canções comentadas