Existem duas formas de escrever sobre um evento. Primeira delas: com o sangue quente, com o risco de exagerar e ainda perder os detalhes da informação.
A segunda é esperar a poeira da pista baixar. E assim, refletir sobre o que viu. No caso dos shows de Paul McCartney, nenhuma dessas alternativas consegue diminuir o impacto do que foi realizado nos dias 21 e 22 de novembro aqui em São Paulo. Muito já foi dito sobre a importância histórica na música mundial de um cara que vestiu a camisa dos Beatles e dividiu a maior parceria da história com John Lennon. Dados extras sobre o tema, fazem parte da retórica.
O fator principal que marcou as apresentações, de acordo com minha observação, foi o valor dado pelo próprio artista ao seu público. Com mais de 1 bilhão de dólares nos cofres, trocentos discos gravados e bilhões de shows ao vivo, Paul McCartney poderia ter dado um show megaprofissional e só. Pegar o Hofner e partir para o Reino Unido era piece of cake. Só que sua realidade também não fica no lugar comum. Poucos artistas são vistos mergulhando no universo da platéia, dando a ideia de que “ele está lá para servir”, e não para ser servido por quem pagou ingresso.
Como Paul, só vi o U2 prestar contas para seus discípulos com devoção exagerada. Claro... Devem e existem ainda outros exemplos que chegam perto, como Bruce Springsteen – que canta com a alma para quem comparece. Pearl Jam, talvez. Outros nomes são dignos de serem mencionados por quem ama rock. Mas aí é que o fator “lenda” entrou literalmente em campo para desequilibrar, como um craque. Uma canção como “Hey Jude”, por exemplo, carrega nas costas o peso de quase quatro gerações que não encontram diferenças ao ouvir e cantar juntos a mesma música. Foi o que Paul McCartney fez por aqui junto com sua platéia, após tanto tempo longe. Ele uniu e comprovou que o mito também é humano. Afinal, ele canta para a humanidade e a humanidade responde na mesma moeda: lágrimas e sorrisos que valem mais que qualquer ingresso.
****
A seguir, mais depoimentos de quem viu a lenda aqui em SP.
****
Claudio D. Dirani é editor de jornalismo da Alpha FM 101.7, autor de Paul McCartney – Todos os Segredos da Carreira Solo e U2 – História e Canções comentadas
12 comentários:
Claudio. Belas palavras. Privilégio ilustrar teu texto com minha foto, casou bem. Paul para mim é um highlander, um homem que atravessa os tempos com boa desenvoltura. Espero que ele seja imortal, fisicamente falando. Pra mim, depois dos meus pais, os Beatles foram os maiores responsáveis por eu ser quem sou e como sou.
Não assisti ao show do Paul, infelizmente.
Sua importância e presença como músico e pessoa são indiscutíveis até mesmo para quem não o enxerga com tanta 'devoção', ou acompanha tão de perto a sua música.
Quando o artista tem este brilho e talento diferentes dos demais, ele encanta até mesmo pessoas que não são seus fãs mais ardorosos. E eu, eu me enquadro nesta categoria, que admira mesmo sem conhecer com profundidade.
Mito sobrevivem gerações à fio, afinal o que é bom não morre com o tempo, somente consolida-se...
Longa vida ao Paul.
:)
Um fator que pode ser válido para esses shows, e que talvez até expliquem um pouco a diferença no clima entre eles e os de 1990/1993, é que este foi o primeiro show da "geração Anthology". Pessoal que só descobriu ou aprofundou-se no fanatismo por Beatles em 1995 quando lançaram/transmitiram o Anthology dos Beatles.
Esse pessoal agora já está entre os 20 e 30 anos e, pela primeira vez, viram um BEATLE.
Se arrependimento matasse.......
O que vou fazer é megulhar na discografia dele, que eu nunca dei o devido valor. Nunca é tarde!
Belo texto, Claudio!! A devoção dele foi exatamente o que mais me chamou a atenção e me emocionou durante as quase 3 horas.
Foi um prazer ver o show ao seu lado!!
Um grande abraço!!
Excelente texto, Claudio - parabéns! Ainda estou rouca de cantar e gritar e sob o efeito de enorme emoção depois dessas duas noites maravilhosas. Já vi mais de 20 shows dele, alguns pra poucas pessoas, e cada um é mais uma experiência inesquecível. Encontrei tantos amigos antigos e novos, acompanhada da minha filha (39 anos) e neta (quase 18), igualmente emocionadas - foi bom demais! Pena a gente não ter se encontrado.
Claro que nunca é tarde! Eu mesmo já te dei aqueles CDzinhos. Mãos à obra! Passa para o iPhone e deixa Deus te acariciar :)
Uma pena, mesmo, Lizzie! Mas lá nos arredores estava mais para CHAOS do que Creation, não é? De qualquer forma, tenho certeza que o momento certo vai acontecer. Valeu mesmo pelo apoio.
xoxo
Concordo totalmente. O Anthology fez o efeito devastador nessa geração, e agora estão perdendo sua "virgindade Beatle"...A geração Anthology foi impactada de uma vez agora. Valeu pelo post.
Bela cronica.
A impressão que esse show causou é que mais uma das belas entradas da vida estava cumprida. Com um Paul carismatico, simpatico e devastador, pude entender a eternidade de suas canções pois daqui a alguns anos, irei lembrar com o mesmo entusiasmo e emoção e comentarei com um filho meu: Eu vi Paul Mccartney a poucos metros de mim, num show de tres horas. ele tocou essas mesmas musicas em que você escuta agora no seu moderno aparelho sonoro.
Achei que depois de todas as emoções que vivi em Porto Alegre, o show de São Paulo fosse ser mais tranquilo. Pelo contrário, foi uma torrente de sentimentos que mexeu profundamente na cachola deste ser. Primeiro, porque pude ver o show ao lado de minha esposa e do meu filhote Marcelo. Eles adoraram, ambos ficaram hipnotizados pelo turbilhão de sons e luzes que um espetáculo de 3 horas e alta tecnologia podem proporcionar. Durante o fim de semana, pude conhecer e reencontrar diversos beatlemaníacos, malucos como eu, de todo o país. Gente que fala a mesma língua, que sente as mesmas vibrações. O público paulistano deu um verdadeiro show à parte. Cantou diversas vezes 'fora de hora', levando Macca a se emocionar, agitou balões brancos em "Give Peace a Chance", num espetáculo impressionante. Foi êxtase coletivo. Comoção geral. Nunca vi nada igual. Você podia olhar para os lados e ver todo mundo cantando, agitando os braços, casais se beijando, batendo palmas. Alguma forma de emoção, cada um dos que estava lá sentiu.
Dia 21/11/2010, eu vi uma lenda!
Eu só tenho algo a dizer, vivi o dia mais feliz da minha vida.
Postar um comentário