sexta-feira, fevereiro 18, 2011

Garota fácil X Garota difícil


Um olhar sobre a estreia de Liam Gallagher com o Beady Eye e a trilha sonora do próximo século do Radiohead


Vamos brincar do seguinte jogo


- Esta noite, você está na febre para cair na balada e ficar com alguém. E lá você encontra um rosto familiar. É ela mesma: aquela garota que nunca esteve no ranking das mais pop, mas que, de uma hora para outra, aparece com pinta de top model. E a boa notícia é que hoje ela está a muito a fim de companhia...

Já a segunda garota – falando sempre do meu ponto de vista – é uma das mais hypadas do momento. Objeto de desejo de 9 a 10 caras. A má notícia é que ela é seletiva ao extremo. Dificilmente hoje vai cair na conversa de alguém.



Certo, as analogias engraçadinhas acima servem para demonstrar o espírito de dois artistas e suas recentes e respectivas criações. A primeira delas é Different Gear, Still Speeding, álbum de estreia de Liam Gallagher com sua Beady Eye após a decomposição do Oasis. Ninguém esperava ter o poder de sua ex-banda, e agora chega desse jeito: com arranjos caprichados, muita pegada e um ar de já ter nascido clássico.

O segundo exemplo serve para descrever The King of Limbs – disco lançado pelo Radiohead. Anunciado em cima da hora. Ele chega após um surpreendente e direto (para os padrões da banda) In Rainbows, amado pela maioria.

Falando da garota de Liam – ou melhor – do álbum gravado pelo ex-Oasis podemos dizer que veio à tona com as mãos de um padrinho respeitável que, com total certeza, deu o banho de loja esperado na beldade. Steve Lillywhite, um cara (o cara) que é chamado sempre pelo U2 para apimentar suas músicas, como na vez que mixou o multimilionário em vendas How To Dismantle An Atomic Bomb. E muitos outros.

A mão de Lillywhite fica visível (audível) em músicas que talvez ficassem murchas em um álbum do Oasis, como no último suspiro (ótimo) Dig Out Your Soul, citando o rocker “Ain’t Got Nothin'”. Suas qualidades desabrocham no lado direto e objetivo das gemas “Standing On The Edge of The Noise”, “Four Letter Word”, “Bring The Light” e “Beatles and Stones”. Corte naquelas gordurinhas que fazem a diferença na hora de vestir a roupa e agradar a si e a todos... 

Quando o assunto é arranjo - e daqueles mais sofisticados, Lillywhite também não deixa complicar. Tal como nas baladas Kill For A Dream e The Morning Son (as duas melhores melodias do disco), e do que parece ser mais vintage atualmente no britpop 2011: “The Roller”, “For Anyone”, “The Beat Goes On” e  "Three Ring Circus". Mas se Different Gear fosse uma garota, o que ela estaria ouvindo em seu iPod? 

Em “The Beat Goes On”, por exemplo, seriea The Hollies ou Rolling Stones (com arranjos que dá para jurar que foram feitos pelo falecido Brian Jones). Em “Standing On The Edge of The Noise” dá para jurar que ela não parou de ouvir o priemeiro do próprio Oasis, Definitely Maybe. “The Roller”, então, foi roubada dos arquivos de John Lennon. Sem direito a plágio. E aí, vai ficar com ela  ou não vai?



The King Of Limbs é nossa difícil e hypada musa da noite. Ela chegou na balada sem avisar e, para quem esperava um In Rainbows II se enganou. Quando se trata de Radiohead isso é normal. Você lembra o que eles já fizeram: complicaram (Kid A), complicaram (Amnesiac), facilitaram um pouco (Hail To The Thief), simplificaram mais (In Rainbows) e voltaram ao complicado.

Em The King Of Limbs, dá para perceber que esta garota tem ouvido muita música eletrônica, e estava com a intenção de escrever a trilha sonora para o século 22. Isso é gritante nas faixas “Bloom”, “Feral” (quase um instrumental, que está implorando para ser remixada à vontade para uso nos clubs) e “Separator”. Todas desrespeitam métricas musicais, não tem refrão e as rádios pop – escrevam – vão ignorar. O que mais se aproxima do som feito em In Rainbows, por exemplo, é a bacana “Morning Mr. Magpie”.

 Outras menos radicais são a linda “Give Up The Ghost” (acústica e bucólica) e a fantasmagórica “Codex”, uma balada ao piano, com um canto inundado pelo hipnótico lamento de Thom Yorke. Oito itens musicais apenas foram incluídos no inovativo “Newspaper album”, como a o próprio Radiohead o descreveu em seu site oficial este novo trabalho.

Com tantos predicados para ser mais uma vez mais discutido e moderno que todas as bandas de 1ª linha, será que The King Of Limbs seria mais assediado que Different Gear, Still Speeding?
Quem ouvir os dois me escrevam aqui. O álbum do Beady Eye sai em CD no próximo dia 28. Já The King Of Limbs pode ser adquirido via site www.kingoflimbs.com.

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