quinta-feira, fevereiro 24, 2011

Crônica sobre um Beatle "não tão quieto assim"






George Harrison - que faria 68 anos às 23h50 de hoje - era um homem de múltiplas contradições. No fim da Beatlemania, em 1966, ele chegou a declarar que "não era mais um Beatle". Fato é que ele prosseguiu vestindo a camisa dos Fab Four, mesmo reduzindo o número de composições no período. Para o disco Sgt. Pepper's, por exemplo, ofereceu apenas "Within You, Without You" e "It's Only A Northern Song". Com a última sendo rejeitada por George Martin, o álbum mais famoso da banda ficou apenas com uma solitária voz do guitarrista.


No final de 1967, George estava mergulhado na filosofia oriental e deixou um pouco o Oeste de fora de sua vida. Poucos meses depois, após ter se encontrado com Dylan em Woodstock, o mesmo Oriental Harrison parecia mudado. Segundo o próprio, uma espécie de "diarréia" criativa o tomou. A partir daquele momento, ele se sentiu forte o bastante para colocar mais músicas nos discos dos Beatles. Pena que, a menos de um ano do fim do grupo, o esquema não seria mudado. No Álbum Branco, por exemplo, ficou com quatro faixas apenas, entre elas a obra mais do que prima, "While My Guitar Gently Weeps". Seu brilho despontaria mesmo em Abbey Road, soltando de vez músicas que nasceram clássicas: "Here Comes The Sun" e "Something".  Naquela fase, ele já colecionava mais de 10 faixas inéditas, que só apareceriam no primeiro vetor solo All Things Must Pass (1970).





"Todas as coisas devem passar" - e passariam mesmo. Nos anos 70, Harrison praticamente não parou. Emendava hit com hit, como foi "Give Me Love (Give Me Peace On Earth" de Living In The Material World (1973). A década ainda contaria com mais quatro discos, até os lançamentos ganharem intervalos mais longos: Somewhere In England (1981), Gone Troppo (1982) e o maravilhoso Cloud Nine (1987). Até 2002, quando sairia o álbum póstumo Brainwashed. Nesse longo intervalo de 15 anos, é verdade que George se deu bem com dois álbuns do supergrupo The Traveling Wilburys e com o projeto The Beatles Anthology. Mas a raridade de canções chegou a incomodar, e a fazer pensar sobre sua eterna reclamação de "ser ignorado" como compositor top, na comparação com John Lennon e Paul McCartney.









Calma.




O fator "contradição" é o plus desta história. Não existe nenhum astro pop intocável. Kurt Cobain, por exemplo, tinha uma postura punk clássica, mas não teve problemas em fazer tudo junto com a MTV - um dos ícones comerciais da indústria. Isso não comprometeu sua obra - só ajudou a espalhar mais sua mensagem. Na questão de George Harrison, seu descontentamento com a indústria fonográfica era latente. E isso fez com que ele parasse por anos, se dedicando a jardinagem. Esta foi a imagem que ele escolheu, embora nunca tenha sido realmente "quieto". Eric Burdon, dos Animals, e até o baterista substituto dos Beatles, Jimmy Nichols, já declararam que ele era o mais baladeiro, o que mais atiçava os outros três nas festas a quatro paredes. Uma contradição. Mas uma contradição valiosa que serviu como tempero para sua música.


Morto há quase 10 anos, George nunca será silenciado. Graças às canções que estão ai para a gente curtir. E ainda há mais. Quando será que ouviremos todas as faixas que ele deixou nos arquivos como "Valentine", "Abandoned Love" e "Going Down To Golders Green"? Talvez, daqui a muitos anos. Só para contrariar aqueles que esperam sempre algo mais de quem já fez muito pela música deste planeta.


Feliz aniversário, George.


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4 comentários:

Sem palavras...

Este compositor faz muita falta (assim como outros que já não estão aqui conosco).

Parabéns pela ótima matéria!

Adoro as músicas do GH, ele era especial mesmo!!! Na morte dele em 2001, fiquei muito triste. Aliás o olhar dele era realmente contraditório, me parecia triste e reservado, e não de um baladeiro kkk.Adorei a matéria.
BeijU2
Marcinha

Obrigado pelos comentários.
Realmente, piscianos são contraditórios. E como bom pisciano, George era assim também.