quarta-feira, julho 20, 2011

Meu amigo secreto: o LP



Há muito tempo, em uma galáxia nem tão distante assim (quando não se matava para ter um celular ou smartphone), o bom e velho LP  ainda era um dos presentes mais desejados por 1 entre 3 aniversariantes, amigos secretos, mães, pais, adolescentes e simpatizantes da música em geral.

Me lembro que, na agora longínqua década de 90, ainda era comum fazer os amigos secretos na escola. Em 1990, por exemplo, ganhei um disco dos Beatles, o Let It Be. No ano seguinte, o álbum foi Várias Variáveis, dos Engenheiros do Hawaii. Minha amiga Valeska Vergara, do SAA (me lembrei do nome) até escreveu uma nota na capa para marcar o momento. Era algo simbólico. Se alguém te desse um LP bacana, era como se uma espécie de laço forte ficasse entre você e a pessoa. E foram muitos outros LPs ganhos nesse esquema: O Dois, da Legião Urbana e até trilhas sonoras de novelas como a da Vereda Tropical.

Mais do que romantismo, um disco tinha mais impacto que o CD. Até me lembro de um amigo secreto na universidade, quando ganhei o Chronicle, Vol. 2 do Creedence Clearwater Revival. Mas vamos combinar: um disco de vinil tem muito mais charme, e causa mais impacto que um compact disc. O formato dá valor ao presente. Antes, ganhar música não era sinônimo de algo simplório. Os dizeres na capa do disco já mostravam sua importância. “Disco é Cultura”. Justo.

Não que eu queira sensibilizar alguém da mídia, indústria ou público por uma volta completa da nossa bolacha musical. É que a digitalização das canções – ainda que favoreçam muito a descoberta de artistas desconhecidos e encurtem fronteiras – tirou um pouco do glamour. Para muitas pessoas, você apostar em um disco é algo inconcebível. Estes não consumidores acreditam que o rock é gratuito. De certa forma, existe um peso de verdade. Afinal, a arte é um dom que não tem preço (se o músico tem arte, é bom frisar...). Só que esses ouvintes esquecem de todo o processo que envolve a produção desta mesma música. Um caminho sem volta? Muito provável. Assim como o charme da troca de LPs. Uma época difícil de ser batida.

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