quinta-feira, outubro 28, 2010

Especulações à vista no Horizonte


A “crise de meia-idade” do U2 em pauta



No início de outubro, um enfezado Steve Lillywhite telefonou à direção do jornal Irish Times exigindo “retratação”.  O motivo da ira do produtor – responsável direto pelo sucesso da banda desde o primeiro disco, Boy (1980) – era que o periódico celta havia publicado uma frase dele, afirmando que No Line On The Horizon (2009) “representava um completo fracasso” para a banda. Exigência feita, exigência atendida.

Na edição do dia 5 deste mês, Lillywhite finalmente esclareceu o que na verdade tinha em mente sobre o mais recente produto de Bono & Cia: “Eu quis dizer que No Line On The Horizon (2009) não repetiu o feito de álbuns como The Joshua Tree (1987) ao tentar retratar a atmosfera do ambiente em que as canções nasceram (Marrocos)... Eu nunca iria chamar qualquer trabalho do U2 de ‘fracasso’”, explicou.

Com vendas superiores a um milhão de unidades só nos Estados Unidos, a verdade é que o bom álbum dos irlandeses não repetiu o feito comercial de How To Dismantle An Atomic Bomb (2004). “Get On Your Boots”, o single de lançamento, mal chegou ao Top 40 das paradas na América. No Reino Unido, o resultado foi até razoável, mas nem sequer esbarrou nos hits anteriores “Vertigo”, “Sometimes You Can’t Make It On Your Own” e “City Of Blinding Lights”.

É por isso que até Bono reclamou diversas vezes da ausência da banda no Top 10 das rádios. E é também por isso que ele, The Edge, Adam Clayton e Larry Mullen Jnr parecem tentar resgatar esse poder de fogo da banda – do mesmo exemplo que já se reinventaram de Joshua Tree para Achtung Baby, de Zooropa para POP e assim por diante...


De uma forma peculiar, Bono já anunciava à BBC, há um ano, o mesmo que Lillywhite comentaria depois, só que de forma “numérica”: “Nós fizemos um álbum meio “desafiador” para o público... E também não conseguimos produzir os hits que tocam no rádio”...

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Experimentalismo x Sucesso comercial: o dilema


Neste momento, penso eu que o U2 enfrenta uma espécie de “crise de meia idade” comercial. Ainda que esta “crise” não pode ser considerada um problema. É só ver a batalha constante por ingressos da turnê 360º, que pode chegar aqui em março/abril do ano que vem. O que acontece nos bastidores é o seguinte: uma luta para saber o que lançar daqui para frente. Confira:

(1)   Um álbum produzido por Danger Mouse (mentor dos Gorillaz, entre muitos, com 12 faixas já trabalhadas). Este seria o disco com um clima de balada, inspirado por alguns nomes do momento, como Will.i.am dos Black Eyed Peas.

(2)  Transformar em um álbum do U2 as canções usadas na trilha sonora do musical da Broadway Spider-Man – Turn Off The Dark de Julie Taymor (a mesma de Across the Universe). A banda já tocou uma das faixas na fase mais recente da turnê, inclusive: “Boy Falls From The Sky”.

(3)  Apanhar as músicas com pegada rock and roll inciadas em 2006 com Rick Rubin (Metallica, Red Hot Chili Peppers). Este projeto foi abandonado para dar lugar a No Line...

(4) Lançar o já mítico Songs Of Ascent. Disco já anunciado quando No Line.. saiu em março do ano passado. Entre as faixas previstas: “Every Breaking Wave”. Também tocada ao vivo na turnê 2010. Seria, nas palavras de Bono “um disco meditativo”, que a língua inglesa chamaria de quasi-religious.

De fato, mesmo, não dá para apostar qual desses produtos vai chegar – segundo promessa da banda – no início de 2011. O que já se sabe é que um EP ao vivo (apenas vinil) chamado Wide Awake in Europe (revisitando o EP Wide Awake In America) chega ao mercado internacional em novembro com pelo menos uma inédita: “Mercy”, acompanhado de mais duas faixas: “I’ll Go Crazy If I Don’t Go Crazy Tonight” e “Moment Of Surrender”.  O ponto mais do que positivo dessa pseudo crise, é que o U2 sempre tirou cartas da manga. E riu por último no final.

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Claudio D. Dirani é editor de jornalismo da Alpha FM 101.7, autor de Paul McCartney – Todos os Segredos da Carreira Solo e U2 – História e Canções comentadas.

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