domingo, janeiro 16, 2011

"Caçador das canções perdidas" revela tudo aqui




Fundador do tablóide musical cult International Magazine, fã incondicional dos Beatles e de monstros da MPB, como Gil e Caetano, Marcelo Fróes, há alguns anos, fez um favor à música brasileira: criou a Discobertas. Com o selo, deu uma chacoalhada na indústria nacional de CDs. Além de lançar artistas de talento até então obscuros, também traz à tona muitas raridades de gigantes do pop para colocar tudo isso em disco. Após lançar Tudo Passa - álbum-tributo à obra-prima All Things Must Pass, de George Harrison, o produtor deu ao RockReporter a honra de um rápido - porém instrutivo - bate-papo. Confira agora:


Como surgiu a ideia de fundar a Discobertas?


Nunca foi uma ambição minha. Na verdade, a sugestão veio de um presidente de gravadora multinacional há uns dez anos, quando a indústria começou a entrar em crise, e ele viu que muitos projetos que eu propunha batiam na trave. - Por que você não cria um selo para desenvolver esses projetos?... Eu confesso que até demorei um pouco pra tomar coragem, cheguei até a passar por um ano sabático em 2006, quando realmente produzi muito pouco. Em 2007, resolvi fundar o selo, então me organizei burocraticamente e encontrei na Coqueiro Verde, gravadora do Erasmo Carlos, uma parceria que foi verdadeira “incubadora” de Discobertas em seu primeiro ano de atividades. Nosso primeiro CD saiu em maio de 2008 e com a distribuição da Coqueiro, fizemos 20 títulos em 1 ano. A partir de 2009, estreamos na Microservice e de lá pra cá foram mais de 40.

Ainda é válido lançar CDs no estágio que as vendas estão?


 Ainda é válido  lançar, sim, há muita gente interessada, o Brasil é um país gigantesco e nossa é  música riquíssima. Há também muitos discos antigos que precisam ser reeditados.



Ouvindo os diversos CDs (Beatles 67, 69, Álbum Branco), uma coisa marcante que percebi foi o cuidado com os arranjos. No tributo ao Paul McCartney, por exemplo, I Am Your Singer ganhou um corpo impressionante... 
             
Questão de punch, de interpretação também, além de arranjo. Mas claro que uma mixagem feita em 2008 tem tudo pra ser mais possante que uma de 40 anos atrás. Mas, efetivamente, cada faixa nesses projetos coletivos é uma produção. Ninguém entra em estúdio para gravar um álbum de canções, cada um entra para gravar sua faixa e cada faixa é um single... E com isso, todo foco vai pra faixa. Isso é muito legal, cada faixa tem uma cara. Em termos criativos, é muito gratificante.

 E como foi a ideia de gravar Suicide (lançada apenas parcialmente em McCartney) e como foi a sessão com a Twiggy. Vale a pena falar um pouco mais sobre ela também.

Conheci Twiggy acidentalmente em 2007, assistindo ao programa de Raul Gil em homenagem a Erasmo Carlos. Depois vim a saber que ela havia ganho um concurso de jovens talentos anos antes e que vinha participando regularmente daquela série "homenagem ao artista". Twiggy me impressionou por sua interpretação e sua presença, parecia um mulherão no palco. Fui buscá-la na Internet e acabei conhecendo primeiro seus pais, pois ela tinha apenas 16 anos (risos)  Antes meso de encontrá-la pela primeira vez, já a havia convidado para gravar no projeto Álbum Branco e ela me surpreendeu ao escolher a obscura "Piggies". Fiquei de orelha em pé e acabei resolvendo propor que Andreas Kisser (Sepultura) fizesse a base. Ele topou e a gravação ficou sensacional. Foi a primeira das muitas que ela fez pro Discobertas nesses três anos, hoje ela é uma mulher e está morando e estudando na Alemanha - onde dá prosseguimento à carreira.





Vocês também lançaram o primeiro CD dela...

Tivemos a chance de lançar seu primeiro CD solo em 2009, que ela havia gravado com o pessoal do Dr. Sin. Quanto a "Suicide", quando eu estava montando repertório para o "Letra & Música" dedicado a Paul McCartney, havia acabado de descobrir que algumas inéditas do Paul estavam editadas e teoricamente poderiam ser gravadas por quem quisesse. Eu adorava "Suicide", e há anos imaginava que alguém poderia gravar, então propus que ela fizesse e ela topou. O próximo passo foi localizar uma turma de jazz que fizesse o arranjo e a base, acabei localizando o maestro Zezo Almeida em São Paulo. Ele tem especialização em big band e topou fazer o lance, foi muito bacana conosco e uma tarde qualquer fomos ao estúdio dele em São Paulo e ela gravou a voz em poucos takes. Tem uma pegada que lembra até Piaf, acho que Paul iria gostar de ouvir isso. Ou não (risos).




O mais recente projeto da Discobertas é a versão nacional de All Things Must Pass, um tributo impressionante. Quais foram os destaques das canções e como foi convocar grandes nomes para participar do tributo?

Quando fizemos a trilogia "Beatles '69" em 2009, pelo conceito do projeto, que era de canções compostas e/ou gravadas pelos membros dos Beatles em 1969, diversas canções de George Harrison foram gravadas. Eu acabei me dando conta que boa parte do "All Things Must Pass" estava sendo regravado e, como por acaso Zé Ramalho falou que tinha vontade de gravar "Beware of Darkness" qualquer dia, acho que esses dois fatores pesaram para que eu decidisse complementar o repertório de canções do disco e lançar essa revisitação. "My Sweet Lord" era a grande encrenca do disco, é uma música batida demais, a tendência era a de ficar uma chatice constrangedora. Sabia que Fafá de Belém tinha voz pra fazer algo especial e que ela gostava de inovar, então a chamei pra gravar essa. Ela topou e disse que queria fazer algo tipo "Fever", só com voz e baixo. Acabou chamando Raul Mascarenhas para fazer o sax, ficou maravilhoso. Isso foi gravado ao vivo, com vazamento e tudo, em apenas dois takes, num estudiozinho na Pompéia. Realmente o resultado ficou muito legal, só com as canções, sem as jams, então coube num CD simples.

Ficou realmente fantástica esta versão com a Fafá... E agora, dá para revelar alguma novidade sobre projetos futuros?

Lançar raridades históricas e reeditar discos sempre foi minha praia (Gilberto Gil, Caetano entre outros). Recentemente, licenciamos de Manolo Camero, o catálogo da extinta gravadora Tapecar para relançar os álbuns mais significativos em CD. Alguns até já tinham saído, mas agora saem com mais capricho – remaster bem bacana, projeto gráfico fiel às capas e contracapas originais etc. Fizemos o box da Beth Carvalho, em seguida reeditamos 6 álbuns da Elza Soares dos anos 70/80. Estamos preparando a reedição da coleção "100 Anos de MPB", 8 LPs ao vivo produzidos por Ricardo Cravo Albin em 1975 e que irão virar quatro CDs duplos para fãs e colecionadores. Relançamos também o primeiro trabalho de Leila Pinheiro, um LP independente de 1983 que finalmente virou CD agora. Fizemos dois CDs com as primeiras gravações da banda O Terço, celebrando seus 40 anos, os disquinhos trazem tudo que eles fizeram antes de migrarem pro rock progressivo. E por aí vamos!

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