sexta-feira, março 09, 2012

Van Halen e a (s) realidade (s) nua (s) e crua (s) do rock




Se a linha do tempo de seu Facebook estiver OK, o YouTube continuar a sugerir a exibição de vídeos da Rebeca Black ou do Michel Teló e a TV continuar explorando o lado B dos freak shows – ou melhor – reality shows –, então você está mesmo em sintonia com 2012.

Um tipo diferente de realidade – não por coincidência, a tradução literal do primeiro disco de inéditas do Van Halen desde 1998 – é o que bandas como esta tentam experimentar, desafiando tendências e narizes torcidos de quem defende apenas o que serve às necessidades da indústria atual.

Para apimentar esta relação homem-música, que tem passado os últimos anos no divã quando o assunto é a sobreviência do rock, o Van Halen – de volta com o incrível David Lee Roth após nada menos que 28 anos – segue os passos de combos como AC/DC, Iron Maiden que resistem a manter o seu DNA, sem ligar para o mundo exterior.

As 13 peças de A Different Kind Of Truth não fazem conceções para tentar agradar ninguém fora do nicho e da horda imensa de fãs da banda, que aplaudiu de pé a retomada da parceria de Roth com o insuperável Eddie Van Halen. Nem mesmo os sintetizadores que fizeram da banda um animal mais pop em 1984 com o disco homônimo ao ano, estão no novo álbum para agradar os que começaram a curtir o grupo por conta de hits como “Panama” e “Jump”.

A máquina do tempo foi utilizada apenas para resgatar as demos Van Halen/Roth usadas para cimentar a base de A Different Kind Of Truth. “She's the Woman”, “Outta Space”, “Big River”, “Beats Workin'”, “Tattoo”, “Honeybabysweetiedoll”, e “Bullethead”, todas estas, datam de 1975, 1976 1977. De fato, o clima vintage setentista foi mantido, sem deixar a sonoridade atemporal dessas músicas escapar.


Este princípio, unido com a perfeita montagem do tracklisting é o segredo de A Different A Kind Of Truth. Da faixa 1 até a 5, a batida mais cadenciada e os temas mais melódicos abrem a porta para o fã mais casual. “Tattoo”, o primeiro single, surfa pelos clichês de tatuagens, garotas sexy e muito rock – típico conteúdo, aliás, do letrista David Lee Roth. A isca foi mordida, claro, fazendo que “Tattoo” batesse na primeira colocação das faixas mais baixadas no iTunes, e a número 2 das paradas de Hard Rock da Billboard. 

Outros candidatos a aproveitar a carona do vácuo são as excelentes “You and Your Blues”, “China Town” e “Blood and Fire” (esta, uma preferida deste autor”. A metade final de A Different Kind Of Truth (título extraído da pedrada “Bullethead”) é dedicada ao casamento do Hard Rock com o punk, com pitadas de Speed Metal. Tudo pontuado aos vocais distintos de rock, hoje bem mais econômicos. Nem por isso, menos exuberantes. E marcantes.

Top 10 mundial

Com a boa preliminar comercial garantida pelo carro-chefe “Tattoo”, o LP acompanhou o desempenho do single, desbravando o complicado e disputado número 2 do Top 200 da Billboard e arrebatando o Top 10 de mais de uma dezena de países, incluindo Reino Unido, Japão e República Tcheca. Esta combinação de números com a veia ardida do Van Halen mostra duas coisas: o gosto pelo rock sobrevive, ainda que embolado nas 1001 tendências do século 21. Isso ratifica ou não o título do álbum? Realidade? Não existe apenas uma.

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