Quem já está derrapando na pista enquanto vê se aproximar os quilômetros finais de seus trinta (e muitos) poderá confrontar e se deliciar com os instantes que fizeram da madrugada dos anos 90, uma temporada delirante na mais nova retrospectiva visual criada sobre o U2 – From The Sky Down.
Sim, duas décadas atrás, uma revolução sonora se preparava para atingir em cheio a opinião pública como se ela fosse apenas mais um dos alvos da guerra fria. Enquanto isso, bandeiras eram incineradas, e suas cores se multiplicavam com a extinção da socialista União Soviética e seus aliados. Em meio aquele clímax histórico, o rock se preparava para contra-atacar e provocar o “caos do bem” com um dos emblemas desta milícia cultural: Achtung Baby - disco gerado pelo U2 que literalmente ajudou o grupo renascer após a conquista dos palcos com The Joshua Tree e Rattle and Hum.
Desta forma, somos apresentados ao universo dos artistas celtas pelo diretor deste rockumentário que estreou no final de setembro na BBC inglesa. Nele, Davis Guggenheim decidiu expor o U2, mostrando flashbacks dos primórdios da banda, até experimentarem uma relação de ódio e amor com Berlim e um fato de importância pessoal que atingiu a todos: o colapso da união entre The Edge e sua primeira mulher.
Quando From The Sky Down chega perto dos 50 minutos, os detalhes defeituosos da produção desmoronam como o muro divisor germânico. Até o trecho abrilhantado pela performance ao vivo (registrada recentemente) de “Love Is Blindness”, com a doce voz de The Edge, a edição parecia se arrastar. O céu parecia cair de verdade.
Se você é daquele tipo de fã que já sabe 99% do que a banda fez desde 1976, vai achar alguns dos temas anteriores supérfluos para a proposta do filme. Apesar disso, a mutação começa quando somos brindados com imagens de arquivo do U2 vagando pela cinzenta e marrom Alemanha. A narrativa (atual) nos coloca frente à frente com alguns fantasmas do passado.
De um lado, The Edge e Bono são atores em busca uma identidade mais cosmopolita, com a moderna música industrial e dançante. No outro canto do palco, Larry não parece atinar sobre o motivo da jornada feita para a decadente Berlim.
“Uma música libertadora”
Agora estamos em 11 de novembro de 1990. A máquina do tempo nos traz de presente uma DAT de número 10 (contendo os inúmeros takes das gravações em estúdio do disco), com anotações sobre o que o U2 pretendia fazer com “Sicky Puppy”. Ou melhor, com rascunhos sonoros de “Mysterious Ways”.
A versão “pirateada” da faixa serve apenas como aperitivo para um dos pontos centrais de toda a saga. Pela primeira vez, somos apresentados um playback com trechos inéditos de “One”, que - como mostram as cifras de guitarra - nasce por acidente, enquanto a banda toca um trecho não aproveitado de "Mysterious Ways". Mais do que canção, “One” é rotulada pelo grupo como a Grande Força Espiritual que uniria o U2 a finalizar o disco, meses depois na Irlanda.
Alguns minutos extras para “One”, e From The Sky Down se prepara para contar como o U2 elaborou sua nova imagem. Dos cristãos bonzinhos de cara limpa, para os bad boys irônicos liderados por “The Fly” – o altere ego de óculos escuros de Bono. Um rock star feito com partes de outras lendas (Jim Morrison e Elvis Presley) nascia para revirar os palcos com a revolucionária ZOO TV. O efeito é similar ao da TV em preto e branco dando lugar para as cores nos anos 60.
Não é legal contar o gran finale de From The Sky Down para quem ainda não viu a coisa toda. Mas, aproveitando o clima fofoqueiro do nosso The Fly, um segredo é feito para se contar. Apesar de alguns minutos que não fazem juz à maior parte do filme, From The Sky Down – no final das contas – ganha o selo de aprovação do seu The RockReporter. Ele foi feito para quem ama o U2.
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