sexta-feira, outubro 21, 2011

Coldplay faz Mylo Xyloto "para não morrer"



Em um universo quase abandonado pelas bandas empenhadas em produzir o pop perfeito, as possibilidades de se deparar com álbuns elaborados para conquistar (ou cativar) um determinado público alvo parecem hoje semelhantes às chances de encontrarmos fósseis ou objetos de arte raros. 

Para se ter uma ideia do contexto, o U2 lançou seu último álbum em 2009, e por não ter vendido de acordo com seu poder de fogo total, No Line On The Horizon foi sendo abandonado aos poucos no meio do caminho da turnê 360º, que atingiu o Brasil com três shows em abril.

A comparação de No Line On The Horizon com o novo álbum do Coldplay, que acaba de vazar na rede, é pertinente. Ao contrário da maior parte das bandas contemporâneas, temos aqui um grupo que ainda acredita no poder do CD, para ser ouvido do começo ao fim. Mylo Xyloto é fruto dessa fé cega no pop comercial, com uma pitada de glam. O resultado comercial desta aposta, mais uma vez, saberemos quando o disco chegar oficialmente às lojas, na semana que vem.

A impressão que se fica de uma audição única do quinto álbum do Coldplay, é de que tudo foi calculado friamente para se manter atual, e ainda continuar agradando os fãs clássicos de A Rush Of Blood To The Head. Primeiro, porque poucas faixas acústicas sobreviveram à ideia original de se fazer um trabalho mais low profile. Se a banda pretendia se manter no topo, e ainda superar a concorrência, os violões não seriam suficientes. (Pense em Lady Gaga, ainda que por um milésimo de segundo).

Com o projeto definido, Mylo Xyloto é preenchido por doses fortes de beats, loopings, e tudo que um pop rock dançante circa 2011 merece. Em alguns casos, essa receita chega a empapuçar a quem espera ouvir um trabalho mais cru, à moda Coldplay circa 2002. Ficou no passado quem rezava por isso. 

O refresco - entre aspas - foi reservado para números como “Us Against The World” ou “Up With The Birds”, que colocam a bola no chão e fazem o ouvinte refletir. Do contrário, não há tempo para pensar muito, a não ser (tentar) dançar, até com temas mais relaxados, como a bela “Paradise”, seu segundo single.

Por ter apreciado quase a maioria das 13 faixas de Mylo  Xyloto ao vivo (lembrando do Rock In Rio), fica-se em dúvida sobre qual formato é mais interessante.

Por exemplo: “Hurts Like Heaven”, uma das melhores do CD, perde calor em sua versão de estúdio. Mesmo mais veloz e "pegajosa", temos aqui 1 a 0 para sua encarnação no palco. O mesmo acontece com “Us Against The World”, que chega a brilhar no escuro, com sua roupagem folk e vocais de apoio celestiais.

O balanço deste primeiro mergulho no novo universo de Chris Martin e Cia é positivo, mas não chega a surpreender ninguém. Depois do que foi alcançado com Viva la Vida And Death and All His Friends, não há mais caminho de volta. Ou cada novo CD seguirá a linha de Mylo Xyloto, ou o Coldplay pode acabar como todos os grupos de rock que tentaram sobreviver apenas com suas raízes. Mortos e abraçados a elas.

Nota: 7.5

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