segunda-feira, fevereiro 20, 2012

RockReporter analisa o novo de Springsteen






Quatro horas da manhã de 20 de fevereiro. E eis que minha caixa de emails recebe uma mensagem muito importante. Em anexo, um link com as músicas para download do mais recente trabalho do chefe Bruce Springsteen: Wrecking Ball  .

O disco promocional, compactado com senha e código de segurança digital, não veio com as faixas bônus (disponíveis para quem encomendar pelo iTunes), mas já serviu para matar a curiosidade. Afinal, o disco que sucede ao ótimo Working On A Dream (2009) realmente é um trabalho com trajes experimentais?

Vale a pena aguardar o final deste post. Post, aliás, que seria dedicado à minha aventura por New Jersey em janeiro, na terra natal de Springsteen e do astro pop Bom Jovi.  No balanço das horas, o adiamento vem a calhar. Quem ler minhas primeiras impressões sobre Wrecking Ball achará que o texto poderá ser digerido como o aperitivo para o que vem por ai.

Há algumas semanas, a primeira música de Wrecking Ball – “Take Care Of Our Own” – foi lançada oficialmente. Seus loops de bateria, teclados e ritmo contagiante pareciam dar o tom do trabalho completo. Mas às vezes a primeira impressão não conta tudo sobre o personagem.

Wrecking Ball – em 70% de sua roupagem – é de tecido suave e tem ambiente soturno. Mais acústico do que elétrico, o disco parece contabilizar características de seus produtos anteriores, a começar por The Rising (2002), Devils and Dust (2005) e os mais recentes Magic (2007) e Working On A Dream (2009). 

De comercial mesmo, aquilo que parece amigo das rádios e webs, muito pouco. “We Take Care Of Our Own”, “You’ve Got It” (ares de “Human Touch”) e  “Rocky Ground” (com direito a sintetizador e frases de rap) devem atrair os ouvidos de quem prefere mais pop. O resto, é dark. E dark, para quem segue Springsteen, remete ao clássico Darkness On The Edge Of Town (1978), ainda que mais pelos temas sombrios das letras. Vamos a elas.

“Easy Money” (pop country), “This Depression” (acústica), “Jack Of All Trades” formam fila para protestar contra temas comuns à sociedade norte-americana nos últimos anos. Assuntos como a falta de crédito dos bancos, desemprego, falências e a perda maior de todas: a descrença no sonho americano, comentada tantas vezes por Springsteen em seus discos. 


Em “Jack All Trades”, por exemplo, a confecção minimalista da faixa, com sonoridade fúnebre à moda do sul dos EUA, indica que o conteúdo é mais importante que a forma. A declaração é intensa: “sou um pau para todas as obras”, apontando que o americano deixou de lado um pouco o orgulho de buscar sua profissão para ter de arrumar um trabalho e vencer a crise.

Mesmo quando a melodia é mais up, como no caso da faixa que dá nome ao CD, o sentimento de decepção não abandona a alma torturada de seu médium. A Wrecking Ball é a bola usada na demolição de edifícios, e aqui ela simboliza o fim de coisas importantes, e também o fim do lendário estádio Giants, demolido em 2010. Um pedaço de New Jersey que se foi, e que levou um pouco de quem vivia por lá.

Apesar do clima deprê, meio tristeza não tem fim, Wrecking Ball vai rolando para um arco-íris no fim da tempestade. Tanto “Land Of Hope And Dreams” (que traz o último sopro do saxofonista Clarence Clemons, da E-Street Band) como “We Are Alive” são odes ao otimismo americano – temas que foram mais explorados no disco anterior “Working On A Dream”, usado como uma das odes à administração do presidente Barack Obama. 

Obama, aliás, que parece não estar tão ligado ao nome de Bruce Springsteen como no passado. O Chefe avisou o Chefão da Nação (e da Terra) que não pensa em fazer shows para apoiar sua reeleição. Ao menos, até segunda ordem.

Wrecking Ball chega às lojas oficialmente no dia 5 de março via Sony Music.

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