Quatro horas da manhã de
20 de fevereiro. E eis que minha caixa de emails recebe uma mensagem muito importante. Em
anexo, um link com as músicas para download do mais recente trabalho do chefe
Bruce Springsteen: Wrecking Ball .
O
disco promocional, compactado com senha e código de segurança digital, não veio
com as faixas bônus (disponíveis para quem encomendar pelo iTunes), mas já
serviu para matar a curiosidade. Afinal, o disco que sucede ao ótimo Working On
A Dream (2009) realmente é um trabalho com trajes experimentais?
Vale a pena aguardar o
final deste post. Post, aliás, que seria dedicado à minha aventura por New
Jersey em janeiro, na terra natal de Springsteen e do astro pop Bom Jovi. No balanço das horas, o adiamento vem a
calhar. Quem ler minhas primeiras impressões sobre Wrecking Ball achará que o
texto poderá ser digerido como o aperitivo para o que vem por ai.
Há algumas semanas, a
primeira música de Wrecking Ball – “Take
Care Of Our Own” – foi lançada oficialmente. Seus loops de bateria, teclados e
ritmo contagiante pareciam dar o tom do trabalho completo. Mas às vezes a
primeira impressão não conta tudo sobre o personagem.
Wrecking Ball – em 70% de
sua roupagem – é de tecido suave e tem ambiente soturno. Mais acústico do que elétrico, o
disco parece contabilizar características de seus produtos anteriores, a
começar por The Rising (2002), Devils
and Dust (2005) e os mais recentes Magic (2007) e Working On A Dream (2009).
De comercial mesmo, aquilo que parece amigo das rádios e webs, muito pouco. “We
Take Care Of Our Own”, “You’ve Got It” (ares de “Human Touch”) e “Rocky Ground” (com direito a sintetizador e
frases de rap) devem atrair os ouvidos de quem prefere mais pop. O resto, é dark. E dark, para quem segue
Springsteen, remete ao clássico Darkness
On The Edge Of Town (1978), ainda que mais pelos temas sombrios das letras.
Vamos a elas.
“Easy Money” (pop
country), “This Depression” (acústica), “Jack Of All Trades” formam fila para
protestar contra temas comuns à sociedade norte-americana nos últimos anos. Assuntos
como a falta de crédito dos bancos, desemprego, falências e a perda maior de
todas: a descrença no sonho americano, comentada tantas vezes por Springsteen
em seus discos.
Em “Jack All Trades”, por exemplo, a confecção minimalista da
faixa, com sonoridade fúnebre à moda do sul dos EUA, indica que o conteúdo é
mais importante que a forma. A declaração é intensa: “sou um pau para todas as
obras”, apontando que o americano deixou de lado um pouco o orgulho de buscar
sua profissão para ter de arrumar um trabalho e vencer a crise.
Mesmo quando a melodia é
mais up, como no caso da faixa que dá nome ao CD, o sentimento de decepção não abandona
a alma torturada de seu médium. A Wrecking Ball é a bola usada na demolição de
edifícios, e aqui ela simboliza o fim de coisas importantes, e também o fim do
lendário estádio Giants, demolido em 2010. Um pedaço de New Jersey que se foi,
e que levou um pouco de quem vivia por lá.
Apesar do clima deprê,
meio tristeza não tem fim, Wrecking Ball
vai rolando para um arco-íris no fim da tempestade. Tanto “Land Of Hope And
Dreams” (que traz o último sopro do saxofonista Clarence Clemons, da E-Street
Band) como “We Are Alive” são odes ao otimismo americano – temas que foram mais
explorados no disco anterior “Working On A Dream”, usado como uma das odes à
administração do presidente Barack Obama.
Obama, aliás, que parece não estar
tão ligado ao nome de Bruce Springsteen como no passado. O Chefe avisou o
Chefão da Nação (e da Terra) que não pensa em fazer shows para apoiar sua
reeleição. Ao menos, até segunda ordem.
Wrecking Ball chega às lojas oficialmente no dia 5 de março via Sony Music.
***
0 comentários:
Postar um comentário