sábado, novembro 05, 2011

Pearl Jam: "Rock de verdade é fundamental"


Foto: Flávio Moraes (thanks)

O poetinha Vinicius de Moraes falou e disse: “as feias que me perdoem, mas beleza é fundamental”.

Transportando isso para o cenário musical, daria para encaixar: “O Rock In Rio que me perdoe, mas rock and roll de verdade é  mais do que fundamental”.

Este foi o clima que o Pearl Jam trouxe para São Paulo em duas noites: além de muito frio para um mês de novembro, rock em abundância sem tirar de dentro. Ao contrário do festival carioca, as apresentações da banda de Seattle em sua turnê comemorativa PJ20 não nos deixaram nenhuma dúvida sobre este estilo tão desprezado pelos organizadores do Rock In Rio. Se foi difícil achar shows com empolgação ou peso roqueiro no mês passado (exceções, Metallica, Sepultura, Red Hot, Coldplay) o Pearl Jam  deu ao público do Morumbi o que ele exatamente procurava.

Cumprindo a tradição de não se repetir no palco, o grupo sobrevivente e relutante de uma era dominada pela guitarra elétrica comandou a própria festa de 20 anos na estrada com muitas doses de coragem. Com um palco simples, luzes modestas e telão sem muita definição, Eddie Vedder soltou a garganta como se o tempo não tivesse passado.

Me lembrei no instante em que “Even Flow” rolava triunfante pelas velhas estruturas do estádio do Morumbi da primeira vez que o clipe da música passou na MTV. Um som diferente – e até estranho! – do que a maior parte dos grupos fazia. A única diferença entre 2011 e 1991, era que o surfista-vocalista não se atirava mais nos braços da galera, nem escalava as estruturas como um Homem-Aranha de flanela.

A atitude do PJ, após essa década elevada à segunda potência, ainda espanta. Optar por deixar de lado a zona de conforto e tocar faixas como “Hail, Hail” (No Code) no início do set é atitude típica de banda indie “that doesn’t give a fuck” para o que alguém vá reclamar ou escrever.

O contraponto de tudo: apesar dos setlists malucos, sem pouca coerência, o Pearl Jam ainda é capaz de mudar a ordem e a quantidade das músicas sem abandonar os hits que trouxeram a maior parte do público para o estádio. Na segunda noite paulista (a que estive presente), “Alive”, “Even Flow”, “Better Man”, “Black” e “Jeremy” (não tocada na quinta-feira) satisfizeram  quem não conhece muito bem o resto da discografia.

Do outro lado da moeda, “Got Some”, “The  Fixer”, “Gonna See My Friend”, “Unthought Known”, “Amongst The W aves”  (muito aguardada) e “Just Breathe” comprovaram que o Pearl Jam poderia estar entre as 10 mais da Billboard se o mais recente disco, Backspacer, tivesse sido lançado nos anos 90. De quebra, a banda nos presenteou com “Ole” – faixa que certamente estará no próximo CD, agendado para o início de 2012.

Se fosse possível passar um raio X nos últimos 20 anos do Pearl Jam, resumidos na noite passada, o resultado provável traria algumas palavras: 1) Honestidade (a banda não lançou discos pop para brigar com Lady GaGa e Rihanna. 2) Respeito (Vedder e Cia tocam o máximo e exploram o máximo do repertório para agradar quem pagou ingresso. 3) Humildade (depois de 2 décadas, a banda não caiu nas armadilhas da vaidade e do sucesso.

Sobre este último item, dá para citar ainda que  o Pearl Jam não se incomoda de tocar faixas solo da carreira de seu líder e vocalista. “Setting Forth” (da trilha de Na Natureza Selvagem)  caiu como uma luva no setlist, e vira símbolo da esperança. Aparentemente,
nenhum disco individual pode atrapalhar o futuro da banda.

Que venham mais shows ao Brasil e mais 20 anos, pelo menos, de rock and roll.

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