sábado, dezembro 17, 2011

Os mistérios de SMiLE e o "Pop X Michel Teló"



O rock and roll é pontuado por mitos, lendas e histórias que se transformam através das décadas. Principalmente aquelas nascidas nos anos 60. Imagine só, o meio da daquela década: Os Beatles, os Rolling Stones, os Beach Boys e outros nomes (não tão revolucionários como Michel Teló, é verdade...) estavam envolvidos em um processo competitivo em que o único vencedor só podia ser o comprador de discos.

Isso mesmo. Em 1965, Brian Wilson ouviu Rubber Soul e enlouqueceu. O resultado da “loucura” foi Pet Sounds (5/1966), que não vingou nas paradas norte-americanas, mas virou sinônimo de arte pop. E este LP foi tão impactante, que inspiraria a produção de Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band (6/1967).

O ponto central de outro mito nasceu aqui: a gravação, produção e lançamento do álbum SMiLE, que oficialmente só seria aprovado para chegar às lojas por Wilson e os Beach Boys em 2011 (ainda que Brian Wilson tenha montado sua versão da sinfonia pop em 2004).

Então, se você apostou grana nesta caixa com 5 CDs, dois singles, 1 LP, pôster, livros e muito mais, não só não se arrependeu, como se deparou com algo inédito. Nunca na história um álbum que quase ficou nos arquivos por tanto tempo recebeu um tratamento de luxo tão caprichado. Principalmente em relação às versões alternativas das suas faixas. 

Nos 5 discos, é possível acompanhar minuciosamente a gestação de todas as músicas, vocal por vocal, instrumento por instrumento, a composição de demos e arranjos, além de ouvir a banda conversando sobre a construção do disco como se você estivesse voltado ao tempo e pudesse acompanhar as sessões originais de SMiLE dentro de seus estúdios.

A experiência é gratificante, e ao mesmo tempo confusa. Ouvindo todo este material (que não é menos excêntrico que muitas faixas de Sgt. Pepper’s), fica complicado compreender porque ele não saiu da maneira que Brian Wilson imaginou em 1967.


Principalmente quando observamos a discografia dos Beach Boys. Quase todas as músicas planejadas para SMiLE seriam aproveitadas nos discos seguintes. Sete delas, inclusive, em versões diferentes, menos rebuscadas, acompanhariam Smiley, Smile (9/1967), que chegou às prateleiras em 1967 mesmo, para suprir a falta do SMiLE original.

Muito foi especulado sobre os motivos do aborto. E mesmo após os 5 CDs, LP, singles, e pacote completo, fica difícil chegar ao denominador comum. Mais fácil é viajar no mito em busca de um denominador incomum para o destino de SMiLE.

 O mistério do "aborto"

Drogas lisérgicas tomadas por Brian? Pressão da gravadora Capitol para mais hits surfistas, ao invés de canções psicodélicas? A força dos Beatles, que vieram com Revolver e Pepper’s e fariam de SMiLE algo menor? Paranóia? Ou todas as alternativas acima?

Uma das justificativas sobre o cancelamento de SMiLE foi sua sofisticação extrema. A gravadora (e o primo (e Beach Boy) Mike Love teria feito a cabeça de Brian Wilson para cancelar o projeto, e repensar a ordem das músicas para o sucessor de Pet Sounds.

Esta teoria faz até algum sentido. Mas é difícil abraçá-la 100%. O tracklisting de Smiley, Smile, traz peças centrais planejadas para SMiLE, como o supersingle “Good Vibrations” (mais cara produção individual do pop), “Heroes and Villains”, “Wind Chimes” e “Wonderful”.

 Ainda que em versões diet, as músicas não abdicam o clima que estaria da “Sinfonia adolescente para Deus”, como o próprio Brian Wilson definiria a concepção original do álbum.


Outra pérola de Smiley, Smile, não planejada para SMiLE, é “Gettin’ Hungry”. Qualquer um que ouvir os primeiros segundos de sua introdução vai ficar confuso. Os efeitos da música derrubam a teoria de que esta música foi incluída para “facilitar” a audição dos fãs dos Beach Boys. 

Em resumo, embora SMiLE tenha finalmente chegado às mãos dos fãs “mais ou menos” como o planejado por seu criador, os amantes da música ainda permanecerão investigando os seus mistérios pelos próximos 50 anos pelo menos...

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