Naquela manhã de primavera eu me encontrava nas dependências da FIAM Morumbi. Só que não havia jeito algum de me concentrar naquela sinistra prova de filosofia que estava prestes a fazer. Tudo para não ficar de dependência na matéria, logo na estréia da faculdade de jornalismo... Ao meio-dia de 3 de dezembro de 1993, com o sol a pino, estava tudo OK. Eu já sabia que havia passado, e à noite o melhor esperava por mim: o primeiro show de Paul McCartney em São Paulo.
Está certo que, em 1990, foi mesmo a minha primeira vez. Saída para o RJ com amigos, e mergulhar na aventura de ver um beatle cantar para o público brasileiro no auge da Era Collor. Três anos depois, tinha novamente a oportunidade de ter um beatle pertinho de casa. E foi incrivelmente muito fácil. Sem empurra-empurra e guerra por ingressos. Sem tumulto. Tranquilidade, do começo ao fim. Quase impensável quando me lembro do sufoco pelo ingresso do show do U2 em 2006, e do próprio Paul McCartney em 2010.
De volta para o passado, em dezembro de 1993, o sol resolveu aparecer e esquentou bastante durante o tempo da fila. O Brasil também estava quente politicamente. Naquela mesma data, o polêmico (e já falecido) PC Farias retornava de seu esconderijo na Tailândia. A “mania PC”, aliás, estava forte. Na própria arquibancada do Pacaembu, horas antes do show, uma equipe da Rede Bandeirantes caçava um sósia do ex-tesoureiro da presidência, que hilariamente se divertia com o infortúnio de seu “ídolo”. Afinal, o falso PC Farias estava prestes a ver Paul ao vivo. Já o verdadeiro...
Máquina do Tempo
Uma das coisas mais bacanas da espera pelo show de Macca no Pacaembu foi poder ter ouvido o soundcheck completo. A passagem de som (ao contrário dos últimos anos) não era aberta para os fãs. Hoje, você paga uma grana pelo pacote Hot Sound e já está lá. Em 1993, tudo era diferente. E graças a uma mãozinha do destino, consegui ver e ouvir músicas que não estariam no repertório da noite, como “Another Day”, “Get Out Of My Way”, “Honey Don’t” e “The Long And Winding Road”.
Assim como publiquei em meu livro Paul McCartney – Todos os Segredos da Carreira Solo, lançado em 5/12/2005 (quase há exatos 6 anos), vou colocar aqui algumas curiosidades sobre a excursão paulistana de Paul McCartney. Direto da máquina do tempo:
Diário de Paul McCartney em São Paulo
6/11/1993 – O jornal O Estado de São Paulo publica matéria confirmando o retorno de Paul McCartney ao Brasil, para shows em São Paulo e Curitiba, marcados para os dias 3 e 5 de dezembro, respectivamente. O preço dos ingressos também é divulgado no mesmo artigo: arquibancadas e pista (Cr$ 4,5 mil), cadeiras numeradas (Cr$ 22 mil) e camarotes (Cr$ 37 mil). As entradas serão vendidas nas lojas de departamento C&A.
29/11/1993 – Cinco aviões de carga pousam em Cumbica, trazendo a aparelhagem técnica para o show de McCartney no estádio do Pacaembu.
30/12/1993 – A banda de Paul McCartney, composta por Robbie McIntosh, Hamish Stuart, Paul “Wix” Wickens e Blair Cunningham, dá entrevista coletiva no hotel Maksoud Plaza, onde se hospeda durante permanência em São Paulo.
2/12/1993 – O jato particular trazendo parte da família McCartney (Paul, Linda, Mary e James) aterrisa no Aeroporto Internacional de Guarulhos às 16h40, proveniente da Cidade do México. Paul desce do avião acenando para o público, e embarca em um Rolls&Royce, cor azul marinho, rumo ao estádio Paulo Machado de Carvalho, o Pacaembu.
17h30 – Paul chega ao Pacaembu para a primeira passagem de som, que dura cerca de 1h30. Após o ensaio, participa de uma entrevista coletiva à imprensa brasileira e segue junto com a família para uma mansão alugada no Guarujá, localizada próximo à praia do Perequê. McCartney permaneceria por oito dias hospedado no litoral paulista, dispensando serviços de hotelaria em Curitiba, local de seu último show em solo brasileiro.
3/12/1993 – Antes do espetáculo, McCartney e banda passam mais uma vez o som para testar a aparelhagem e aquecer a voz para o show principal, marcado para às 21h30. As canções tocadas durante a 1h18 de duração do sound check: Matchbox, Just Because, Crackin' Up, I Wanna Be Your Man, Off The Ground, Midnight Special, Things We Said Today, We Can Work It Out, Good Rockin' Tonight, Honey Don't, C Moon/Jamaica Rap, The Long And Winding Road, Ain't That A Shame, Don't Let The Sun Catch You Crying, Get Out Of My Way, Another Day e Twenty Flight Rock.
22h10 – Com meia hora de atraso, Paul entra no palco para um show de aproximadamente 2h20, abrindo com Drive My Car, lançada originalmente no LP Rubber Soul, em 1965.
Canções apresentadas no show
Drive My Car
Paul toca contrabaixo Hofner.
Coming Up
Paul toca contrabaixo Hofner.
Looking For Changes
Paul toca contrabaixo Hofner.
Jet
Paul toca contrabaixo Hofner.
All My Loving
Paul toca contrabaixo Hofner.
Let Me Roll It
Paul toca guitarra elétrica Gibson Les Paul.
Peace In The Neighbourhood
Paul toca guitarra elétrica Gibson Les Paul.
Off The Ground
Paul toca guitarra elétrica Gibson Les Paul.
Can't Buy Me Love
Paul toca guitarra elétrica Gibson Les Paul.
Robbie's Bit (thanks, Chet)
Instrumental tocado por Robbie McIntosh (solo).
Good Rockin' Tonight
Paul toca violão Martin D28.
We Can Work It Out
Paul toca violão Martin D28.
I Lost My Little Girl
Paul toca violão Martin D28.
Ain't No Sunshine
Paul toca bateria.
Hope Of Deliverance
Paul toca violão Martin D28.
Michelle
Paul toca violão Martin D28.
Biker Like An Icon
Paul toca violão Martin D28.
Here There And Everywhere
Paul toca violão Martin D28.
Yesterday
Paul toca violão Gibson.
My Love
Paul toca piano de cauda Steinway.
Lady Madonna
Paul toca piano de cauda Steinway.
C'mon People
Paul toca piano de cauda Steinway.
Magical Mystery Tour
Paul toca piano de cauda Steinway.
Let It Be
Paul toca piano de cauda Steinway.
Live And Let Die
Paul toca piano de cauda Steinway.
Paperback Writer
Paul toca contrabaixo Hofner.
Back In The U.S.S.R
Paul toca contrabaixo Hofner.
Penny Lane
Paul toca contrabaixo Hofner.
Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band/Reprise
Paul toca guitarra elétrica Gibson Les Paul.
Band On The Run
Paul toca contrabaixo Hofner.
I Saw Her Standing There
Paul toca contrabaixo Hofner.
Hey Jude
Paul toca piano de cauda Steinway.
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