quarta-feira, maio 23, 2012

"Invasão americana" garante boa música




No post anterior, a bola da vez foi o polivalente Jack White e sua obra-prima Blunderbuss.

O álbum do ex-White Stripes foi eleito pelo RockReporter a figurar na excelente onda de lançamentos que nasceu lá dos States e virou maremoto. Antes dele, vale a lembrança: Wrecking Ball, de Bruce Springsteen, comprovou a grande fase de nomes que investem pesado em boas letras e no estilo country folk Americana.

LITTLE BROKEN HEARTS

A "Invasão Americana", a propósito, continua neste mês de maio com o soberbo Little Broken Hearts, sucessor de The Fall na discografia da musicista hindu-estadunidense. Trata-se de um manual de regras básicas para sair de um clima de fossa com muita classe. Sem mergulhar um segundo sequer no clima piegas. O destaque do disco vai para o contexto geral.

O trabalho colaborativo com Danger Mouse (Brian Burton), tanto nas composições como na produção, foi a carta na manga da filha de Ravi Shankar. Como por exemplo: o som indefectível dos teclados aplicado à faixa-titulo.

Poderia ser um simples piano elétrico, mas dá vida ao que Norah canta, e com sinceridade, juntamente com o clima estradeiro de "Out on the Road", além da languidez do celo em um das melhores músicas já escritas por Jones: "Traveling On".



A combinação do toque diferenciado de Burton com a acidez e melancolia bem dosada de Norah Jones faz de Little Broken Hearts outro candidato a Best Of de 2012. Mais interessante é notar uma certa coerência de temas, que evoluem e regridem:  

(1) Resignação, (2) Cobrança, (3) Razão, (4) Comparação, (5) Fuga, (6) Recomposição, (7) Raiva, (8) Fuga (de novo), (9) Volta por cima, (10) Vingança e (11) Vida que segue.

Em tempo: apesar de sofrer em todo o álbum, Norah já tem namorado. Não adianta tentar.

BORN AND RAISED

Outro invasor que vem lá do oeste é John Mayer. Polêmico, sincero e controverso, o guitarrista decidiu fugir dos holofotes após uma entrevista condenada pela mídia, na qual o cantor foi tirado como racista. A tempestade prosseguiu durante as sessões de Born And Raised.  O disco demorou mais para ficar pronto, em virtude da extração de nódulos de suas cordas vocais. Que fase.

Mais maduro e, aparentemente, muito tranquilo, Mayer aprontou o sucessor de Battle Studies (2010) com um fantástico álbum que remete aos artistas que ficaram famosos por unir o folk, o rock e o country no estilo Laurel Canyon (Neil Yong, CS&N, Joni Mitchell, Grateful Dead), popularizado nos anos 70 e bem hypado atualmente. Deu certo.



No lugar dos arranjos polidos do LP anterior, Born And Raised é muito mais acústico e confessional: "Sou um bom homem, com um bom coração" - ele canta em "Shadow Days". "Meus dias sombrios acabaram", ele garante.
Em "Speak For Me", Mayer faz um balanço sobre sua carreira, dando mais relevância a uma busca por um estado de espírito em sintonia com o mundo do que o glamour de ter aparecido na capa da revista Rolling Stone em janeiro de 2010. O tema "redenção" é constante, de cabo a rabo no tracklisting: "The Age Of Worry", "If I Get Around To Living" e "Love Is A Verb". Nem parece o mesmo artista, ao menos no interior. No exterior, as performances são perfeitas e o CD quase chega lá.

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