segunda-feira, maio 07, 2012

Jack White explica como sair do vermelho





Durante oito anos (1999-2007), a alva e rubra White Stripes destilou nada menos que seis discos, todos eles upados com o melhor que o alt rock indie podia oferecer. "Seven Nation Army" (de 2003, do LP Elephant) nasceu com nome de hino, e de repente Jack e Megan White viraram ídolos cult, sem pátria. Mesmo transpirando algo nada parecido com o soul de Motown, a dupla de Detroit conquistou um público fiel, em vários cantos do globo. Ah, sem falar na Amazônia, quando o White Stripes visitou o Brasil, e quase derrubou o suntuoso Teatro Amazonas, na capital manauara.

O deletar das listras brancas não foi bem o fim. Além dos milhões de projetos, Jack tem se dividido em diferentes (e estranhas) dimensões, com incursões musicais, como a trilha de Roma (com Danger Mouse), contribuições para o The Lost Notebook of Hank Williams, Raconteurs e o Dead Weather, onde ficou com a bateria e composições em 2 CDs. Se fosse meu filho,  diria: "like a boss". Mas como a palavra final é minha, digo apenas (apenas?) "Fora de Série".



Enquanto a opinião pública se preocupa com as versões multilinguísticas de "hits" by "Michael Teloh", e Lady GaGa tenta ultrapassar Madonna no deboche e (pseudo) escândalos, White é um fenômeno pop low profile em ascensão, que  já poderia ser equiparado a Neil Young - e até Bob Dylan - caso o mundo não ficasse mais focado em saber qual será a versão do iPad em 2020. Não importa.

Com Blunderbuss, White se desconectou de (alguns) grunhidos do Dead Weather, e do blues gritado de (várias) faixas do Stripes. É como se o músico, idealizador da bacana e heróica gravadora Third Man Records -tivesse criado o seu próprio John Wesley Harding 2.0, ou Nashville Skyline - a Missão, com requintes do pós-moderno. Sem querer imitar qualquer um desses clássicos de Dylan, o filho adotado do Tennessee se concentrou em mixar melodias e levadas modernas, que soam como se voltassem para o futuro, após serem geradas em 1970.

Quem buscar o White Stripes em Blunderbuss vai se decepcionar (um pouco). Quem for atrás de peso (à moda Dead Weather) vai se desiludir (um montão).  O único fato sobre o álbum, é que ele tem um certo aroma de liberdade, e mais semelhanças com a face Raconteurs de Jack.

Cheirinho de campo com ervas em "Missing Pieces". Sabor de soul/blues no single "Love Interruption". A suave "On and On and On" faz o contrabalanço com o estilo americana com pitadas da raridade "Flower Child" lançada pelo U2 (apenas em versão digital). Nos dedos mágicos de seu interlocutor, até o cover "I'm Shaking" (de Little Willie John) ganha forma própria, e fica com cara de original. E nem as texturas do jazz ficaram livres das artimanhas de Jack White, graças à soberba "I Guess I Should Go To Sleep". Uma favorita. "Take Me With You When You Go" encerra o programa com uma interpretação de fazer inveja ao Robert Plant de Led Zep III.

Na linha de fundo deste texto, só dá para cruzar a bola de um jeito mais arriscado: Assim como High Flying Birds (Noel Gallagher) foi um dos melhores de 2011, arrisco dizer que ainda vão falar muito de Blunderbuss até o final deste ano. Ele veio para ficar.

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